Vida vegetariana

Por um mundo melhor

Será que somos carnívoros?

with one comment

Tenho recebido diversas manifestações positivas, mesmo durante essa minha sumida do blog. Uma opinião contrária, porém, chamou-me a atenção e motivou-me a escrever mais um post.

No post sobre a fisiologia humana, uma pessoa contraargumentou dizendo que muitos primatas são onívoros. Vamos à minha tréplica.

Quando você assiste um programa na Discovery ou Natgeo mostrando a vida de predadores e os momentos que antecedem os seus banquetes, o que você sente? Torce, excitado(a), pelo caçador? Ou compadece-se da presa? Sinceramente, que sentimento aflora ao ver ou imaginar uma leoa com os dentes cravados nos membros traseiros de um antílope, enquanto outra lhe morde o pescoço para sufocá-lo e uma terceira lhe rasga o ventre?

O ser humano se autoproclama um onívoro. Alguns, por necessidade de afirmarem sua virilidade, até se dizem carnívoros. Mas como se comporta o todo-poderoso troglodita de churrascaria diante de um pedaço de carne ao natural? Vamos dar uma colher de chá ao homo sapiens e excluir do banquete as carnes em que a cadaverina já deu o ar da sua graça. Isso é coisa para hienas e urubus, não é mesmo? A carne com vermes é para depois do primeiro dia. O ser humano, como caçador nato, alimenta-se de carne fresca.

O ser humano alimenta-se de carne fresca e crua sim! Estão aí o carpaccio e o sashimi para provar. Tudo bem… O carpaccio leva em seu preparo condimento como alcaparras, limão e azeite de oliva. Pra que mesmo? Seria para disfarçar o gosto da carne, já cortada em finíssimas lamelas? E o sashimi? Fica tão apetitoso sem o shoyu, que é uma bomba de cloreto de sódio?

Vamos esquecer então essa história de carne crua. Temos o fogo, presente dos deuses! Podemos cozinhar e produzir pratos maravilhosos. E incrementar magníficos temperos. Epa! Pra que o fogo e os temperos? Azeite, alho, cebola, cominho, colorífico e, principalmente, o cloreto de sódio servem para dar à carne sabores, odores e cores que ela não tem, e assim torná-la agradável aos sentidos. E claro… O que seria desta alquimia não fosse o fogo? O fogo muda propriedades físicas e químicas da carne para torná-la algo diferente do que é naturalmente. Ah, e o fogo mata micróbios presentes na carne. Espere… O homem não é naturalmente carnívoro? Ele não tem resistência natural aos microorganismos presentes na carne?

Por último, vamos pensar no processo de transformação de bicho vivo em carne. Todos os predadores têm em seus corpos os elementos que precisam para obter sua comida. O ser humano aprecia muito a carne bovina. Mas… Como o ser humano vai conseguir caçar um boi sem elementos externos como pedras, paus, flechas, laço, armas de fogo, pistolas de ar comprimido, etc? Vamos dar uma colher de chá (dizer uma colher de sangue não cairia bem aos sentidos) ao homo sapiens e vamos botar o boi já agonizando na sua frente. Não deu certo… Ele vai lembrar dos olhos do boi nos seus últimos momentos de vida… Vamos colocar o boi morto na sua frente (e não se perguntar sobre a sua causa mortis). Com as mãos nuas, como este ser humano vai conseguir ter acesso à sua preciosa carne? As suas unhas e dentes precisam passar pelo couro resistente. Talvez esperar que o couro se abra naturalmente… Não vai dar certo… Cai no problema dos vermes… E se ele esperar que outro animal faça o serviço sujo de prover o acesso? Também não. Ele vai ficar com nojinho da saliva do predador.

Aliás… O ser humano não suporta o odor dos mamíferos silvestres, das aves ou aquele cheirinho característico dos peixes (mesmo dos recém-pescados). E ainda há o incoveniente dos respectivos couros, penas e escamas. Ah… Mas o ser humano é da ordem dos primatas e muitos deles são onívoros… É… São onívoros. Alimentam-se abudantemente de frutas e complementam sua dieta com insetos. Mas o povo do oriente come insetos! Temperados e assados… Quantas pessoas à nossa volta comem frequentemente insetos enquanto estes se debatem na boca?

Resumindo: na minha visão pessoal, o ser humano anatomicamente não está preparado para, dependendo apenas do que lhe é nato no corpo, ser um bom caçador ou pescador e, mesmo na comodidade e praticidade de um açougue, o cheiro, o sangue e o sabor (ninguém que conheço pede prova da carne crua ao vendedor) não apetecem, mas apenas a imaginação de como aquela peça (que o indivíduo normalmente procura desassociar da imagem de um pedaço de cadáver) ficará após devidamente cortada, temperada e assada, tornando-se algo que não tem odor, sabor, aparência, microorganismos e consistência de carne. Claro… Isto é só a minha opinião pessoal… Cada um pode acreditar no que quiser.

Para concluir, há uns treze anos eu estava numa churrascaria me fartando de carnes e a TV estava ligada num programa que mostrava as caçadas dos predadores e eu me incomodei muito com aquilo. Os pobres animaizinhos lá, herbívoros, querendo sobreviver, sendo caçados e devorados por felinos impiedosos… Então olhei para o meu prato e olhei para mim mesmo. Daí fiz o que qualquer homo sapiens genérico faria: comecei a pensar em outra coisa e tentar esquecer o que era aquela comida.  Até que um dia…

Written by candeeiroverde

24 de maio de 2011 às 3:56 am

Publicado em Uncategorized

Uma resposta

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  1. E ae meu amigo!
    Tenho que confessar que para mim deixar de comer carne é algo muito complicado, o costume, a mente e os vícios realmente cobram seu preço e o espírito precisa ser forte. Tenho muito tentado diminuir meu consumo de carne e gostaria de adicionar algo ao seu post, mais um exemplo dentre os vários que você cita muito bem.

    A dificuldade e dependência que temos da carne pode facilmente se comparar ao consumo de uma droga, ela gera dependência psíquica e física em seus usuários.

    Pessoas inteligentes fazem o que diante de um vício?
    Continuam ou tentando se livrar do mesmo?

    Um abraço do amigo!

    ajmarkus

    25 de maio de 2011 at 12:15 am


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