Vida vegetariana

Por um mundo melhor

Será que somos carnívoros?

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Tenho recebido diversas manifestações positivas, mesmo durante essa minha sumida do blog. Uma opinião contrária, porém, chamou-me a atenção e motivou-me a escrever mais um post.

No post sobre a fisiologia humana, uma pessoa contraargumentou dizendo que muitos primatas são onívoros. Vamos à minha tréplica.

Quando você assiste um programa na Discovery ou Natgeo mostrando a vida de predadores e os momentos que antecedem os seus banquetes, o que você sente? Torce, excitado(a), pelo caçador? Ou compadece-se da presa? Sinceramente, que sentimento aflora ao ver ou imaginar uma leoa com os dentes cravados nos membros traseiros de um antílope, enquanto outra lhe morde o pescoço para sufocá-lo e uma terceira lhe rasga o ventre?

O ser humano se autoproclama um onívoro. Alguns, por necessidade de afirmarem sua virilidade, até se dizem carnívoros. Mas como se comporta o todo-poderoso troglodita de churrascaria diante de um pedaço de carne ao natural? Vamos dar uma colher de chá ao homo sapiens e excluir do banquete as carnes em que a cadaverina já deu o ar da sua graça. Isso é coisa para hienas e urubus, não é mesmo? A carne com vermes é para depois do primeiro dia. O ser humano, como caçador nato, alimenta-se de carne fresca.

O ser humano alimenta-se de carne fresca e crua sim! Estão aí o carpaccio e o sashimi para provar. Tudo bem… O carpaccio leva em seu preparo condimento como alcaparras, limão e azeite de oliva. Pra que mesmo? Seria para disfarçar o gosto da carne, já cortada em finíssimas lamelas? E o sashimi? Fica tão apetitoso sem o shoyu, que é uma bomba de cloreto de sódio?

Vamos esquecer então essa história de carne crua. Temos o fogo, presente dos deuses! Podemos cozinhar e produzir pratos maravilhosos. E incrementar magníficos temperos. Epa! Pra que o fogo e os temperos? Azeite, alho, cebola, cominho, colorífico e, principalmente, o cloreto de sódio servem para dar à carne sabores, odores e cores que ela não tem, e assim torná-la agradável aos sentidos. E claro… O que seria desta alquimia não fosse o fogo? O fogo muda propriedades físicas e químicas da carne para torná-la algo diferente do que é naturalmente. Ah, e o fogo mata micróbios presentes na carne. Espere… O homem não é naturalmente carnívoro? Ele não tem resistência natural aos microorganismos presentes na carne?

Por último, vamos pensar no processo de transformação de bicho vivo em carne. Todos os predadores têm em seus corpos os elementos que precisam para obter sua comida. O ser humano aprecia muito a carne bovina. Mas… Como o ser humano vai conseguir caçar um boi sem elementos externos como pedras, paus, flechas, laço, armas de fogo, pistolas de ar comprimido, etc? Vamos dar uma colher de chá (dizer uma colher de sangue não cairia bem aos sentidos) ao homo sapiens e vamos botar o boi já agonizando na sua frente. Não deu certo… Ele vai lembrar dos olhos do boi nos seus últimos momentos de vida… Vamos colocar o boi morto na sua frente (e não se perguntar sobre a sua causa mortis). Com as mãos nuas, como este ser humano vai conseguir ter acesso à sua preciosa carne? As suas unhas e dentes precisam passar pelo couro resistente. Talvez esperar que o couro se abra naturalmente… Não vai dar certo… Cai no problema dos vermes… E se ele esperar que outro animal faça o serviço sujo de prover o acesso? Também não. Ele vai ficar com nojinho da saliva do predador.

Aliás… O ser humano não suporta o odor dos mamíferos silvestres, das aves ou aquele cheirinho característico dos peixes (mesmo dos recém-pescados). E ainda há o incoveniente dos respectivos couros, penas e escamas. Ah… Mas o ser humano é da ordem dos primatas e muitos deles são onívoros… É… São onívoros. Alimentam-se abudantemente de frutas e complementam sua dieta com insetos. Mas o povo do oriente come insetos! Temperados e assados… Quantas pessoas à nossa volta comem frequentemente insetos enquanto estes se debatem na boca?

Resumindo: na minha visão pessoal, o ser humano anatomicamente não está preparado para, dependendo apenas do que lhe é nato no corpo, ser um bom caçador ou pescador e, mesmo na comodidade e praticidade de um açougue, o cheiro, o sangue e o sabor (ninguém que conheço pede prova da carne crua ao vendedor) não apetecem, mas apenas a imaginação de como aquela peça (que o indivíduo normalmente procura desassociar da imagem de um pedaço de cadáver) ficará após devidamente cortada, temperada e assada, tornando-se algo que não tem odor, sabor, aparência, microorganismos e consistência de carne. Claro… Isto é só a minha opinião pessoal… Cada um pode acreditar no que quiser.

Para concluir, há uns treze anos eu estava numa churrascaria me fartando de carnes e a TV estava ligada num programa que mostrava as caçadas dos predadores e eu me incomodei muito com aquilo. Os pobres animaizinhos lá, herbívoros, querendo sobreviver, sendo caçados e devorados por felinos impiedosos… Então olhei para o meu prato e olhei para mim mesmo. Daí fiz o que qualquer homo sapiens genérico faria: comecei a pensar em outra coisa e tentar esquecer o que era aquela comida.  Até que um dia…

Written by candeeiroverde

24 de maio de 2011 at 3:56 am

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Evento vegano em Campina Grande

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Estou repassando a informação s0bre o evento vegetariano que será realizado em agosto na cidade de Campina Grande. Apenas transcrevi o texto postado na comunidade “Vegetarianos em João Pesoa” (Orkut).

Abraço a todos!

Evento vegano em Campina Grande

Informações gerais sobre o evento

Nos próximos dias 20 e 21 de agosto deste ano vamos realizar na cidade de Campina Grande, no auditório da faculdade de administração da UEPB – centro, um evento muitíssimo importante cujo título é o seguinte: SEMINÁRIO SOBRE ALIMENTAÇÃO NATURAL E VEGETARIANA E DIREITO ANIMAL. A ENTRADA É GRATUITA. Não precisa fazer inscrição. Haverá palestras com um médico vegetariano e uma médica vegetariana. Haverá distribuição de material impresso, de adesivos e de lanches vegetarianos, além de vendas de camisas (R$10,00), assim como debate, e exibição de trechos de documentários sobre o tema ESCRAVIDÃO DOS ANIMAIS NÃO HUMANOS IMPOSTA PELOS SERES HUMANOS. Divulgue o máximo que puder, e, se possível, esteja lá para participar ativamente desse evento. AJUDE-NOS A ABALAR AINDA MAIS A ESTRUTURA DESSE SISTEMA ONDE CADA SER HUMANO É MUITO PRESSIONADO, DESDE CRIANÇA, A ABSORVER E DIGERIR A IDEIA IMPROCEDENTE QUE OS ANIMAIS NÃO HUMANOS NASCEM PARA SERVIR À HUMANIDADE, SEM NENHUM LIMITE ÉTICO CONSIDERÁVEL PARA TAIS IDEIAS INSANAS.

PROGRAMAÇÃO DO EVENTO VEGANO

PALESTRAS – ENTRADA GRATUITA
20 DE AGOSTO DE 2010
HORÁRIO: 19:00 ÀS 22:00
– ALIMENTAÇÃO E ENERGIA VITAL
MED. SOCORRO SOUSA (JOÃO PESSOA)
PEDIATRIA E HOMEOPATIA
21 DE AGOSTO DE 2010
HORÁRIO: 9:00 ÀS 12:00 E 13:00 ÀS 15:00
– BENEFÍCIOS DA ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA À SAÚDE HUMANA
MED. AURELIANO RAMALHO (CAMPINA GRANDE)
PEDIATRIA, HOMEOPATIA, ACUPUNTURA E MÉDICO DA FAMÍLIA
– EXIBIÇÃO DE TRECHOS DE DOCUMENTÁRIOS, DEBATE SOBRE DIREITO ANIMAL, ETC
INFORMAÇÕES ADICIONAIS: www.blogdapav.blogspot.com
(83) 8849 6478 – (83) 9637 0976 (JOHANNS)

Written by candeeiroverde

17 de julho de 2010 at 3:02 am

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O preço da soja

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Aqueles que criticam o vegetarianismo muitas vezes argumentam que a soja é responsável pelo desmatamento da Amazônia, pela contaminação do solo, rios e lençóis freáticos por defensivos agrícolas e pela morte de animais pelo uso dos pesticidas e do maquinário em geral.

O texto abaixo reflete este quadro:

Os maiores impactos ambientais são aqueles típicos das grandes monoculturas: desmatamento, contaminação das águas, assoreamento dos rios e nascentes, perda de biodiversidade e de solos e outros impactos indiretos causados sobretudo pela construção de infra-estrutura de escoamento da produção, como portos, hidrovias, ferrovias e rodovias.

No Brasil, os biomas mais atingidos são, nesta ordem, os Cerrados e a Amazônia. Nesta, a área agrícola já absorve áreas de quase todos os estados e a produção de soja, ocupando mais de 3 milhões de hectares, corresponde a um quinto de toda a produção do país. O Cerrado é o segundo maior bioma do país, com cerca de 2 milhões de km2, 22% do território brasileiro, e estende-se em área contínua por 11 estados brasileiros. As estimativas são de que cerca de 50% da área original do bioma já estejam alteradas. É preocupante o fato de que somente 2% de seu território esteja protegido sob a forma de unidades de conservação, apesar de ser considerada a savana mais rica em biodiversidade do mundo.

A expansão na região de floresta amazônica do Estado do Mato Grosso é, por certo, a maior responsável pela número recorde de 26.130 quilômetros quadrados de desmatamento da Amazônia, entre agosto de 2003 e agosto de 2004, um crescimento de 6% em relação ao período anterior, concentrado em cerca de 50% no Mato Grosso (12.556 quilômetros quadrados).

Quanto aos agrotóxicos, relativamente ao cultivo da soja, destaca-se, além, dos grandes volumes utilizados, a pulverização por aviões, provocando a contaminação de outras áreas, o que constitui ameaça aos pequenos produtores de outros cultivos, à produção orgânica e à qualidade da água, entre outras. Na região nordestina do Cerrado, o uso de pesticidas é uma ameaça ao abastecimento. O mesmo ocorre com o aqüífero Guarani, no sul do Brasil, por infiltração de agrotóxicos e outros poluentes.

O cultivo e transporte da soja, da maneira que se dá nos dias de hoje, requer também, que seja considerada toda a cadeia produtiva e seu elevado consumo de energia, inclusive na fabricação de fertilizantes e agrotóxicos, no maquinário utilizado diretamente na produção e no transporte. A lenha é ainda utilizada pelas grandes traders como principal fonte energética no processo de esmagamento da soja, o que agrava ainda mais o desmatamento do Cerrado. (SCHLESINGER, 2010)

José Maria da Silveira descreve brevemente a história recente da soja no Brasil:

A produção de soja no Brasil expandiu-se rapidamente no início dos anos 70 como uma produção tipicamente agroindustrial. Atingiu um pico em 1989, com 24 milhões de toneladas, caindo no início da década de 90 (abaixo de 20 milhões ton/ano), mas recuperando-se progressivamente, até superar a marca de 30 milhões de toneladas na safra 1997/98. Com velocidade semelhante à da expansão do plantio foram criadas plantas esmagadoras – que transformam a soja em grão, em óleo e farelo bruto – e, em menor proporção, indústrias para refino do óleo destinado à alimentação humana, que ainda é o mais consumido mundialmente (competindo diretamente com o óleo de palma).

Tendo se transformado na principal região produtora de soja do país, superando os 10 milhões de toneladas anuais, a região Centro-oeste também se tornou o principal pólo da agroindústria esmagadora, atraindo também a produção e o processamento de carne de aves. Isto se deu principalmente pela participação ativa de grandes grupos nacionais que atuam na cadeia de oleaginosas e de carnes. Também foi fundamental a política de crédito para comercialização implementada pelo Governo, principalmente na década de 80, que permitiu às empresas e aos agricultores arcarem com o custo de transição e adaptação a uma nova região produtora.

Apesar do surgimento de novos competidores, como a Argentina e o Paraguai, o Brasil continua detendo expressivas parcelas no mercado internacional. Em 1997, o país participou com 21,9% do mercado de soja em grão, 30,8% do mercado de farelo e 15% do mercado de óleo de soja. A participação em cada um desses mercados oscila de ano para ano, sem que o Brasil reduza significativamente sua participação global no complexo soja, em torno de 25%, revelando a flexibilidade agroindustrial para adaptar-se aos sinais de mercado.

Além de sua enorme importância para a balança comercial brasileira, conforme mostram os gráficos da Evolução e dos Principais Itens da Pauta de Exportação de Produtos de Origem Agropecuária, a produção de soja também é fundamental para o abastecimento interno. O farelo de soja, além de servir para a alimentação humana – assim como o óleo de soja, que faz parte da cesta básica -, é utilizado na ração animal, principalmente para frangos. (SILVEIRA, 2010)

O que os críticos não mencionam é o destino da maior parte desta soja. Apesar de conter pesquisas até de 2009, o site da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) cita dados de 2006 para mostrar  o destino da soja. Segundo a instituição governamental (EMBRAPA, 2010), baseada em informações do FMI e CEPEA, em 2006 o Brasil produziu 58,4 milhões de toneladas de soja, das quais somente 2,7 milhões de toneladas foram utilizadas para a alimentação humana (5,09%  do total).

Para onde vão os outros 94,91% da soja produzida no Brasil? Grande parte é exportada para Estados Unidos e Europa, para alimentação dos rebanhos.  Segundo os dados da Embrapa, 22,389 milhões de toneladas de grãos, 13,89 milhões de toneladas de farelo e 2,595 milhões de toneladas de óleo foram exportados em 2006. Parte do que fica é usado para a produção de óleo, usado para consumo industrial e residencial e, recentemente, como biodiesel, por ser a opção de menor custo (BERNARDES, 2006).

Dentre o pouco que é destinado para consumo humano, os destinos mais comuns são o  “leite” de soja, a lecitina (usada como componente em muitos alimentos) e a proteína vegetal texturizada (PVT, conhecida também como PTS – proteína texturizada de soja).  Sejamos sinceros: quantas pessoas que você conhece consomem “leite” ou “carne” de soja? Dentre estas, quantas são vegetarianas?

O consumo crescente da soja é um problema ecológico sério? Sim. Suprir este consumo é a principal causa da existência das grandes monoculturas? Sim. Manusear enormes plantações de soja requerem o uso de defensivos agrícolas? Sim. A facilitação deste manuseio é obtida, sob alto preço, pelo uso dos transgênicos? Sim. E esta conta é dos vegetarianos? Não.

A grande maioria da soja vai para o consumo animal, especialmente para a criação de aves, bovinos e suínos. Outro fator a se pensar é que são necessários de sete a dez quilos de grãos para cada quilo de carne bovina produzida. Se todos fossem vegetarianos e consumissem soja regularmente, a área proporcional destinada à produção de soja para alimentação animal poderia ser reduzida para, no máximo, 1/7  da atual ou, utilizando a mesma área que hoje, produziria-se pelo menos sete vezes mais alimentos para humanos.

E agora vem a pergunta mais pertinente, que talvez até dispense tudo o que foi escrito acima: quem foi que disse que vegetarianos precisam mesmo de soja para viver? É cômodo usá-la? Sim. Torna a alimentação mais saborosa? Sim, para os padrões de quem acostumou-se à vida creófila. A soja é indispensável para quem não consome produtos de origem animal? Respondo esta pergunta com uma sugestão de verbetes a serem pesquisados na Internet: crudivorismo e frugivorismo (Um dia eu chego lá!).

Concluindo: falácia é um argumento lógico inválido, com o intuito de manipular a visão de um fato para um ponto de vista que interessa ao retórico parecer ser a verdade. Atribuir os problemas causados pelo uso exagerado da soja aos vegetarianos, quando a grande maioria da soja vai para consumo animal ou para a produção de óleo e somente pouco mais que 5% desta é utilizada na alimentação humana, considerando ainda que uma boa parte destes produtos são consumidos por não vegetarianos, ao meu ver, caracteriza-se como falácia.

Referências bibliográficas:

BERNARDES, Julio. Biodiesel de soja é mais barato. Agenusp. 2006. Disponível em: <http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010115060524&gt;. Acesso em: 27 jun. 2010.

EMBRAPA. Embrapa Soja. Disponível em: <http://www.cnpso.embrapa.br/index.php?cod_pai=2&op_page=294&gt;. Acesso em: 27 jun. 2010.

SCHLESINGER, Sérgio. A soja no Brasil. Disponível em: <http://www.comova.org.br/pdf/observandosoja/12-A-soja-no-Brasil.pdf&gt;. Acesso em: 27 jun. 2010.

SILVEIRA, José Maria da. A produção de soja no Brasil. Disponível em: <http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/20337&gt;. Acesso em: 27 jun. 2010.

Written by candeeiroverde

29 de junho de 2010 at 12:26 pm

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Banquete vegetariano

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Dizem por aí que vegetarianos levam uma vida literalmente sem sal. Eu não vou dizer que esta afirmação é falsa em todo caso, pelo menos para mim, que nem sei e nem tampouco tenho talento para cozinhar. Mas, sempre que posso ir à forra, eu vou (ninguém é de ferro).

 

Há duas semanas, confidamos quatro amigos vegetarianos para almoçar lá em casa. Todos eles são ovo-lacto-vegetarianos mas a comida, mesmo a que trouxeram, era vegetariana estrita, com exceção dos apreciadíssimos cupcakes da Raquel e do purê de batatas feito pela minha sogra.

Os pratos:

  • Yakissoba veg;
  • Batatas gratinadas;
  • Salada de maçã, cenoura e limão;
  • Feijão verde;
  • Farofa;
  • Bifes de beterraba;
  • Salada de frutas.

Não preciso dizer que tudo estava uma delícia, não é? Comida boa, saudável e sem sofrimento animal gratuito. A pergunta que não quer calar: quando é que vai ser o próximo mesmo, hein? Pra quem não foi, um consolo: vou postar algumas receitas por aqui.

Abraço a todos e obrigado pelas visitas!

Janio Carlos

candeeiroverde@neoline.com.br

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25 de junho de 2010 at 1:02 pm

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O que faríamos com os bois?

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Uma das perguntas mais bobas daqueles que argumentam contra o vegetarianismo é: “Se todos virassem vegetarianos, o que faríamos com os bois? “

Em primeiro lugar, é bom se perguntar se todos iriam virar vegetarianos ao mesmo tempo. Se não, a resposta seria simples: baseado nos princípios da oferta e da demanda, à medida em que o consumo caísse, a produção também diminuiria. É bom lembrar que grande parte dos nascimentos de “animais de corte” é provocado ou mesmo forçado, conforme post anterior.

Infelizmente, nossa sociedade passou a industrializar a vida e submetê-la ao mesmo tratamento dado a uma mercadoria qualquer. Este fim de semana, fui num hipermercado e observei de uma forma diferente o quão sinistra é a seção de frios. Pedaços de cadáveres expostos. Restos de animais que não só morreram mas tiveram sua existência forçada para este macabro propósito, e no meio da história, uma sub-vida sujeita, em muitos casos, a maus tratos e uma morte desumana (existem mesmo assassinatos “humanos”?).

Se, por outro lado, a abstenção da carne fosse brusca, o que a causaria? Uma doença pior que as gripe aviária e suína ou a vaca louca? A constatação e divulgação pública e ampla da relação entre o consumo de carne e doenças graves? Uma onda de consciência humanitária? Seja o que for, já seria motivo suficiente para parar o consumo primeiro e perguntar depois o que fazer.

O fato é que a humanidade nem cogita a possibilidade. “O direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa sobre a qual a humanidade inteira manifesta acordo unânime, mesmo durante as guerras mais sangrentas” (Milan Kundera). Mas se um dia isso for mudado, por qualquer motivo que seja, devemos estar cientes de que temos todos, creófilos e vegetarianos (mesmo os assim natos), uma imensa dívida para com todos os animais.

Criar reservas bovinas seria uma possibilidade. Somente em poucas reservas na África e em alguns lugares isolados do planeta existem bovinos vivendo livres na natureza e quase ninguém se incomoda com este fato. E o controle populacional? Gente… Essa é uma conta que temos o dever de pagar.

O engraçado (trágico, na verdade) é ver alguns amigos que se indignam com a pesca de baleias e golfinhos pelos japoneses que pode ser vista na Discovery enquanto comem seu sanduíche de presunto. Vai entender a humanidade…

Written by candeeiroverde

1 de junho de 2010 at 2:38 pm

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Albert Einstein: vegetariano

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Albert Einstein (1879-1955)
Físico, ganhador do Prêmio Nobel de 1921

As últimas indicações que temos sugerem que Einstein foi vegetariano só no último ano (ou assim) de sua vida, mas ele parece ter apoiado a idéia muitos anos antes de praticá-la em si mesmo.

“Então, eu estou vivendo, sem gorduras, sem carne, sem peixe, mas estou me sentindo muito bem desta maneira. Sempre me pareceu que o homem não nasceu para ser um carnívoro”.

Esta declaração foi retirada de uma carta escrita para Hans Muehsam, de 30 de março de 1954, cerca de um ano antes de Einstein morrer. Isso indica que ele adotou uma dieta vegetariana no fim de sua vida. Anteriormente, em 3 de agosto de 1953, Einstein escreveu o seguinte em uma carta a Max Kariel, sugerindo que ele ainda estava de comer carne na época:

“Eu sempre comido carne de animais com uma consciência um pouco culpada.” – Einstein Archive 60-058

As citações acima são de: “The Expanded Quotable Einstein, collected and edited by Alice Calaprice”. O prefácio sobre o livro de Ms. Calaprice diz: “Alice Calaprice é editora sênior da Princeton University Press, onde se especializou em ciências e trabalhou com os Documentos de Einstein por mais de vinte anos.”

A seguinte citação é proveniente de Ms. Joan Gilbert (E.U.A.), que a escreveu para Jon Wynne-Tyson (Reino Unido), para seu livro, The Circle EXTENDED, publicado em 1985:

“É minha opinião que o modo de vida vegetariano por seu efeito puramente físico no temperamento humano seria mais benéfica influência no destino da humanidade.” – Carta ao “Vegetarian Watch Tower’, 27 de dezembro de 1930.

David Hurwitz, que contribuiu com as citações no topo desta página, tem a seguinte redação:

Alice Calaprice, lançou a última edição de suas coletadas e editadas citações de Albert Einstein intitulado “The New Quotable Einstein.” Agora há uma fonte sólida para a citação, completa com o número de documento no Arquivo Einstein.

“Embora eu tenha sido impedido pelas circunstâncias exteriores de observar uma dieta estritamente vegetariana, eu tenho sido desde há muito um adepto da causa, em princípio. Além de concordar com os objectivos do vegetarianismo por motivos estéticos e morais, é a minha opinião de que uma forma de vida vegetariana, pelo seu efeito puramente físico no temperamento humano, seria mais benéfica influência no destino da humanidade. ” Tradução da carta de Hermann Huth, 27 dezembro de 1930. Einstein Archive 46-756

A biografia de Einstein diz que ele ainda estava vivendo na Alemanha em 1930, só emigrando para os E.U.A. em 1932. Ela também diz que ele sofreu um colapso da saúde no final dos anos 20, o que seria consistente dar algum pensamento à sua dieta, mas não temos indícios de que ele realmente se tornou vegetariano neste momento.

Entre 1882 e 1935, a Deutscher Vegetarier-Bund (Federação Vegetariana Alemã) publicou o Vegetarische Warte. A imagem da direita é a capa do 15 dez 1898 problema [não pus a imagem]. Um dicionário Inglês/Alemão traduz Warte como ‘ponto de vista, sala de controle’ – é provável que esta seja a torre de observação vegetariana” (uma tradução um pouco estranha, mas perfeitamente possível), e que a citação é uma tradução do original alemão.

As datas da carta e que é dada à revista são idênticas – 27 de dezembro, o que poderia sugerir que a atribuição para uma revista foi equivocada, uma vez que deveria ter surgido algum tempo depois da carta. Parece provável que a revista impressa e a data da carta foram confundidas, na primeira citação acima, com a data da revista posteriormente.

Hildegund Scholvien, da Deutschlands Vegetarier-Bund (re-formado em 1945), tem a maioria das edições antigas do Warte Vegetarische. Ela enviou as seguintes observações:

Tentei encontrar essa citação de Einstein no “Vegetarische Warte”, edição 12, de dezembro de 1930, mas não consegui encontrá-la. No entanto eu não tenho a revista original, apenas cópia dos artigos. As páginas estão completas, 365-392, apenas falta a capa. Talvez a citação, devido à sua importância, estivesse na capa.

Naquela ocasião, o presidente da Vegetarier-Bund, Dr. Gustav Schlager e o Sr. Friedrich Schulenburg eram editores do “Vegetarische Warte”. Sr. Hermann Huth foi vice-presidente da sociedade.

No entanto: Dr. Schlager estava doente e morreu no final de novembro de 1930. Portanto, pode ser possível que Hermann Huth (como vice-presidente) tenha sido o editor desta edição especial.

Em dezembro de 1930 a nova diretoria da Vegetarier-Bund foi eleita, e Dr. Bruno Wolff foi eleito presidente e editor, o Sr. Hermann Huth, vice-presidente novamente.

Infelizmente, eu não tenho a edição 1 de 1931, por isso não posso verificar se a citação poderia estar nesta edição.

Tradução feita do site http://www.ivu.org/history/northam20a/einstein.html pelo tradutor do Google e corrigida pelo autor deste blog.

Written by candeeiroverde

11 de maio de 2010 at 12:13 pm

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Discovery Channel: Os gladiadores eram vegetarianos

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Um trecho de um programa do Discovery Channel (As Expedições de Josh Bernstein), disponibilizado hoje, dia 10/05, no site do Universo On-line, mostra evidências que os gladiadores eram vegetarianos. O antropólogo forense Fabian Kanz, do Instituto Antropológico Austríaco, afirma que o alto índice de estrôncio indica a alimentação dos gladiadores era vegetariana e atribui isto ao alto custo da carne na época. Porém, ele mostra que os cuidados médicos que tinham os gladiadores eram bem melhores que a maioria da população.

Confira o vídeo na íntegra: http://tvuol.uol.com.br/#view/id=as-expedicoes-de-josh-bernstein–laboratorio-forense-0402983866C4C18346/user=yaq680z51683/date=2010-05-10&&list/type=user/codProfile=yaq680z51683/

E tem gente por aí que acha que vegetarianos são fracos e têm aspecto de doentes…

Written by candeeiroverde

10 de maio de 2010 at 11:23 am

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O que eu “posso comer” na dieta vegetariana

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Uma das grandes preocupações das pessoas que cogitam a possibilidade de se tornarem vegetarianas é pensar no que se pode comer, tanto em casa como, principalmente, fora dela.

Em primeiro lugar, esclareço que sou vegetariano estrito. O que é isso? Vegetariano, em tese, é quem alimenta-se apenas de vegetais. Existem estágios (ou classificações) dentro do vegetarianismo, a saber:
– Ovo-lacto-vegetariano: alimenta-se de vegetais, ovos, lácteos e, talvez, mel;
– Lacto-vegetariano: alimenta-se de vegetais, lácteos e, talvez, mel;
– Ovo-vegetariano: alimenta-se de vegetais, ovos e, talvez, mel;
– Vegetariano estrito: alimenta-se de vegetais (e opcionalmente de produtos industrializados, assim como os demais);
– Vegano: é um vegetariano estrito que não contribui com a exploração animal também no vestuário (couro, seda, etc), diversão (circos com animais, zoológicos, shows aquáticos, aquários, etc), produtos testados em animais, assim como caçadas, tração e qualquer outro meio em que eles sejam utilizados;
– crudívoro: é um vegetariano estrito que só consome alimentos que não passaram pelo processo de cozimento ou qualquer outra transformação;
– frugívoro: é um vegetariano estrito que só consome frutas (excluindo da dieta os cereais, folhas e plantas).

Existem outras denominações mais recentes, como piscitariano (come vegetais e peixes) ou flexitariano (come carnes de vez em quando). Tecnicamente, estes não são vegetarianos.

Agora vamos ao que interessa: moro em João Pessoa, uma cidade que não tem um grande número de vegetarianos (pelo menos que eu tenha conhecimento), mesmo na comunidade local no Orkut. Aqui existe apenas um restaurante ovo-lacto-vegetariano, o Govinda, sendo uma boa opção também para os estritos. Há também restaurantes naturais (de produtos orgânicos), como o Oca. Mas nesse post, quero colocar justamente o cardápio de rotina e as soluções improvisadas que, combinadas ou mesmo isoladas, podem ser uma boa refeição ou, pelo menos, dar uma sobrevida nos momentos de auto-fagia estomacal.

Café da manhã:
– Frutas;
– Granola;
– Ração humana: eu mesmo faço a minha com aveia, amaranto, quinua real, gérmen de trigo e farinhas de castanha de caju, linhaça, gergelim, girassol, soja, milho e laranjeira com mel de engenho (melaço de cana), receita de nutricionista. Adicionei marapuama e guaraná, à revelia;
– Cuscuz;
– Tapioca com côco;
– Pão integral com margarina Becel; *
– “iogurte” ou “danete” de soja: a linha Naturis, da Batavo, é ótima; *
– Torrada integral com patê de soja com azeitona, alho ou outros sabores: sempre encontro na Mundo Verde;
– Bolacha Cream Cracker integral: sem lácteos ou ovos, encontrei a Pilar e Marilan;
– Sanduíches com tofu (“queijo” de soja) misturado com shoyu: encontro tofu na Mundo Verde ou no Extra;
– “Shakes” de soja – tenho consumido os da Jasmine: com Nescau 2.0 (não contem lácteos); *

Almoço:
– Saladas e vegetais em geral: sempre uma boa opção. Sempre verifico se há queijo ou presunto (estranho, mas tem gente que põe presunto!);
– feijão verde: é bom ter cuidado, pois já encontrei feijão com charque!
– Arroz: de preferência vermelho ou integral. Na falta, um arroz branco quebra o galho. Na dúvida, não como arroz refogado;
– Macarrão: sempre verifico, pois muitas massas contém ovos;
– Proteína texturizada de soja: fica gostosa, quando bem preparada, mas não recomendável para comer todos os dias;
– Milho, ervilha, azeitona, alcaparras, champingnon, palmito, cebola e outros vegetais/fungos em conserva;
– feijões preto, macaça e carioquinha e fava: em minha casa, são preparados sem carnes. Não me arrisco a comer na rua;
– Macaxeira, batata, inhame e afins;
– Farinha de mandioca;
– Batatas fritas: com moderação;
– “Carne” de beterraba, caju, cenoura e outras invenções: por incrível que pareça, o resultado pode ser muito bom;
– Similares de almôndegas, salsichas, bifes, medalhões e afins, feitos de soja: nunca comprei, mas vi vários tipos para vender no Extra;
– Miojo de Yakisoba, sabor oriental: existe outro Yakisoba da Nissin, sabor tradicional, que é preparado com carne e frango; *
– Yakisoba vegetariano: opção disponível ou negociável em alguns restaurantes. Sempre pergunto se o macarrão e/ou o bifum (em tese, feito somente de arroz) contém ovos;
– Azeite: sempre;
– Sucos;
– Hamburguer de soja da Perdigão; *
– Molhos madeira e barbecue, cat chup e mostarda;
– Sobremesas: salada de frutas, rapadura, alguns chocolates meio amargos e goiabada;

Jantar:
– Pão francês com patê, Becel, tofu, etc: o pão francês, em tese, é feito com farinha, sal e fermento. Algumas padarias usam ovos. Eu sempre pergunto;
– Pão integral com acompanhamentos;
– Cuscuz;
– Macaxeira, batata, inhame e afins;
– Açaí: sempre enfatizo bem: “sem leite condensado, farinha láctea e mel”;
– Nozes;
– Sucos: e os sucos de ameixa ou açaí sem leite também ficam gostosos;
– Hamburguer de soja da Perdigão; *

Lanches:
– Frutas ou saladas;
– Pastel de soja: encontro na Mundo Verde, Casa dos Integrais ou na faculdade em que trabalho;
– Barrinha de cereais: até agora, só encontrei “limpas” as de castanha-do-pará e banana da Nutry;
– Castanhas de caju e amendoim;
– Batatas fritas;
– Club Social, sabor Original: os outros que pesquisei contém lácteos; *
– Negresco, Escureto e afins: me surpreendi quando descobri que não contém lácteos; *
– Salgadinhos integrais da Vitao;
– Sojinha: grãos de soja crocantes – encontro na Casa dos Integrais e na Mundo Verde;
– Salgadinhos de batata frita, como Ruffles (sabor Original), Stack (sabor Original) e afins, ou batata palha; *
– Hamburguer de soja da Perdigão; *
– Chocolates: Orgânico da Cacau Show, Meio Amargo da Casino (Pão-de-Açúcar), da marca Carrefour, em barra de 1 Kg da Harald ou em tabletes disponíveis na Mundo Verde;

Provavelmente estou esquecendo muitas coisas. Existem vários livros, sites, e comunidades no Orkut com muitas receitas interessantes. As informações acima têm caráter de exposição de possibilidades acima e não são recomendação ou sugestão. Se tiver interesse, recomendo procurar um nutricionista, como eu o fiz.

Os produtos marcados com asterisco (*) são produzidos por marcas boicotadas por veganos, por utilizarem, em outros itens, ingredientes de origem animal e/ou testarem em animais os seus produtos.

Written by candeeiroverde

24 de abril de 2010 at 2:53 pm

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A comida como ela é

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Para falar sobre a motivação alimentar humana, recorri a um trecho do livro A Doutrina de Buda (Ed. Martin Claret, 2003, p. 83-84):

“Os homens tem paixões mundanas que os levam somente às ilusões e sofrimentos. Há cinco maneiras pelas quais eles podem se livrar dos grilhões destas paixões.

Primeira, devem ter idéias corretas das coisas, idéias estas baseadas em cuidadosa observação, devem compreender corretamente o significado das causas e efeitos. Desde que a causa do sofrimento se acha arraigada nos desejos e apegos da mente, e desde que estes são frutos das errôneas observações do ego que negligencia o significado da lei da causa e efeito, só poderá haver paz, se a mente puder fugir destas paixões mundanas.

Segunda, os homens podem evitar estas observações erradas que originam as paixões mundanas, através de um paciente controle da mente. Com o eficiente controle mental, pode-se evitar todos os desejos que surgem das sensações dos olhos, ouvidos, nariz, língua, tato e dos subsequentes processos mentais; se assim se fizer, poder-se-á cortar as paixões mundanas em sua raiz.

Terceira, deve-se ter idéias corretas a respeito do adequado uso das coisas. Assim, com relação ao alimento e à roupa, não se deve pensar em termos de conforto e prazer, mas sim, em termos das necessidades do corpo. A roupa é necessária para proteger o corpo dos extremos do calor e do frio; o alimento é necessário para nutrição do corpo. Deste correto modo de pensar não brotarão as paixões mundanas.

Quarta, deve-se aprender a ser tolerante; deve-se aprender a tolerar os desconfortos do calor e do frio, da fome e da sede; deve-se aprender a ser paciente quando se recebe abuso ou desprezo. É pela prática da tolerância que se debela o fogo das paixões mundanas que consome o corpo.

Quinta, deve-se aprender a ver e evitar o perigo. Assim como o homem prudente evita os cavalos selvagens e os cães raivosos, não se deve ter como amigos os homens perversos, nem freqüentar lugares evitados pelos sensatos. Praticando-se a cautela e a prudência, poder-se-sá extinguir o fogo da paixões mundanas.

2. No mundo existem cinco grupos de desejos. Referem-se e se originam dos cinco sentidos. Assim temos: desejos que surgem das formas que os lhos vêem; dos sons que os ouvidos escutam; das fragrâncias que o nariz sente; do paladar que a língua sente, e das coisas que são agradáveis ao tato. Destas cinco portas abertas ao desejo, nasce o amor pelo conforto do corpo.

Muitos homens, por alimentar o amor ao bem estar do corpo, não percebem os males que seguem o conforto e são apanhados pelas demoníacas ciladas, como um cervo é apanhado pela armadilha do caçador. Estes cinco desejos, que surgem das diferentes sensações, são as mais perigosas armadilhas. Sendo apanhados por elas, os homens se enredam nas paixões mundanas e sofrem. Devem aprender um meio pelo qual possam escapar dessas ciladas.”

Para as pessoas, a alimentação vai muito além da nutrição. O motivo mais óbvio é a satisfação do paladar. Quantas coisas não sabemos que são sensivelmente ofensivas ao corpo e as ingerimos, por alguns segundos de prazer ao passar pela boca? É difícil, por exemplo, encontrar fora de casa um feijão que não tenha sido preparado com carne. Mesmo em feijão verde (muito apreciado aqui no Nordeste), que em tese só precisa de coentro para ficar muito bom, já encontrei pedaços de charque ou uma pessoa que me é próxima temperando-o com tabletes de caldo de carne.

Porém, a comida tem que agradar também ao olfato. É por isso que muitos produtos industrializados recebem pesados aromatizantes. Você já experimentou tomar um refrigerante tampando o nariz? Quando eu os consumia, fiz esse teste e achei essa bebida muito sem graça ingerida dessa forma.

Bom… Até aqui, nada que não seja muito óbvio. Mas por que a alimentação tem que que também agradar à visão? Eu não falo de algo ter o aspecto ruim, no sentido de estar imprópria. O que falo é de se fazer algo parecer mais bonito. Já viu que as guloseimas que encantam a vista nas docerias são mais bonitas que muitas obras de arte? E os corantes? Já se informou sobre o quanto os corantes químicos são prejudiciais? O fantástico intelecto humano, sempre tão cheio de idéias mirabolantes [sim, estou sendo irônico], “resolveu o problema” da tintura vermelha moendo muitos e muitos insetos, chamados colchonilhas, para produzir um corante disfarçado industrialmente sob os nomes de vermelho 40, Vermelho 4, Vermelho 3, Carmim, Cochineal, Corante natural carmim de Cochonilha, Corante C.I ou Corante ou Colorizante E120. A revista do IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) de julho de 2009 traz um interessante artigo sobre os corantes.

Ainda falta falar sobre o tato e a audição. Quantos alimentos não se perdem porque eles simplesmente não estão mais quentinhos ou porque não estão mais crocantes, mesmo não estando comprometidos para a ingestão? Pães, biscoitos, salgadinhos… Para fazer com que certos alimentos apresentem consistência agradável, adiciona-se emulsificantes às suas composições.

O ato de comer tornou-se um ritual. Outro dia, eu estava pensando no fato que quase todos os encontros e eventos sociais são refeições. As pessoas não marcam de encontrar-se na areia da praia ou em um banco de praça para se encontrarem. Sim… Há luais. Mas quase sempre envolvem comida. Muitos aniversários hoje são comemorados com churrascos ou rodízios de pizza. Celebrações como páscoa e natal viraram sinônimo de ceia farta.

Muitos conhecidos contra-argumentam o vegetarianismo sob o pretexto da nutrição. Isso para mim é um argumento inválido, já que centenas de milhões de pessoas no mundo vivem normalmente em dieta vegetariana estrita. Mas o cômico, ou trágico, é que essas pessoas nunca foram a um nutricionista pedir uma dieta que consumisse o mínimo de carne e leite possível. Mesmo se tivesse feito isso, provavelmente não a seguiriam.

O fato é que, infelizmente, as pessoas hoje comem por motivos que vão muito além da nutrição. Isso quando a comida não está na contra-mão da saúde do corpo. Nesses dias, alguém me disse: “você está se alimentando como se a comida fosse uma ração”. Respondi: “bingo”. Não fui totalmente sincero, pois ainda não me alimento como gostaria, ao consumir produtos industrializados, mesmo que sejam junk food vegan. Passar 48 ou mesmo 72 horas ingerindo apenas água é uma experiência muito interessante, pois percebemos o quão fútil é nossa alimentação. É pena que, pouco tempo depois, não lembremos mais disto.

Written by candeeiroverde

8 de abril de 2010 at 6:06 pm

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Como me tornei vegetariano

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Em março de 2007, vegetarianismo para mim era apenas algo de que eu ouvia falar e que nunca associava à minha vida, até que uma amiga apresentou-me Terráqueos. O filme deixou-me transtornado. Nunca havia pensado profundamente na origem de minhas refeições. A carne era algo absolutamente normal e inquestionável. Os rodízios eram confraternizações com amigos. Tudo “normal”. Mas a ilusão foi embora.

Logo depois, tive uma inclinação para parar com vida creófila, mas não durou muito. Caí na ilusão que poderia reduzir o consumo. Talvez o tenha feito por uma semana. Depois voltei ao “normal”. O engraçado é que o filme fala, no início, sobre os três estágios da verdade: ridicularização, oposição violenta e aceitação. Logo que “desencanei”, passei a tentar desmerecer o filme. Dizia que ele citava as situações mais extremas como padrão, dentre tantas outras coisas. Depois, passei ao segundo estágio, sem me dar conta disto. Passei a frequentar comunidades e refutar argumentos pró-vegetarianismo. Antes este assunto me era indiferente. Naquele momento, eu estava fazendo oposição. Então eu pensei: “Por que?”.

O filme me mostrou uma possibilidade de verdade. A mim, cabia acreditar ou não. Não paguei e nem fui obrigado a vê-lo. Agora isso muito me incomodava. Algumas linhas psicológicas dizem que quando algo ou alguém muito incomoda gratuitamente, isto pode ser um sinal de que algo está ferido dentro de si. Então cessei a oposição e passei a tentar ignorar estas idéias e voltar à “inocência perdida”. Durante algum tempo, o conflito interno ficou menos latente. Mas a culpa existia a cada garfada.

Outro dia, comecei a ver A Carne é Fraca. Nem vi todo. As cenas são bem menos chocantes que Terráqueos, mas a coisa estava bem mais evidente. Comecei a quase não ir mais a rodízios. Quando ía, comia muito mais feijão, batata e pão de alho. Mas quanto mais eu reduzia, mais me amargurava o fato de ainda comer carne.

Uma certa noite de domingo, depois de um dia alimentar “normal”, eu disse: “amanhã eu não vou comer nenhum derivado de origem animal”. Na manhã seguinte, mesmo que muitas vezes antes eu tenha ficado sem café da manhã, fiquei muito incomodado por não “poder” comer queijos ou mesmo carnes. Aproveitei o ensejo e parei também o açúcar. Sustentei o esforço durante todo o dia. No dia seguinte, amanheci muito bem. Tão bem que decidi continuar com a mesma alimentação. Mais tarde, porém, comecei a sentir-me fraco, como algumas pessoas disseram que aconteceria.

No terceiro dia, senti tonturas. Liguei para um amigo e ele aconselhou-me a voltar, por um tempo, a comer peixes e crustáceos, leites, ovos e o açúcar. Os peixes e crustáceos eu mantive por duas semanas mais e então parei em definitivo. O leite e os ovos passaram ainda quase dois meses no meu cardápio.

Hoje eu tenho uma dieta vegetariana estrita (sem produtos de origem animal) e vivo muito melhor que antes. Não me sinto fraco nem restrito. Perdi 14 quilos no início. Depois o corpo estabilizou-se e tenho mantido o mesmo peso nos últimos meses. Sinal de que os exercícios são mais que necessários. Sinto que outra guerra se aproxima…

Janio Carlos M. Vieira

candeeiroverde@neoline.com.br

Written by candeeiroverde

2 de abril de 2010 at 12:23 pm

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